42 Anos do Tombamento da Serra do Japi: avanços na preservação e desafios persistentes
Por Flavio Gut 08/03/2025
Em 8 de março de 1983, a Serra do Japi foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), um marco importante para a preservação ambiental de Jundiaí e da região.
O tombamento aconteceu após uma mobilização popular iniciada em 1979 e se consolidou como uma das ações mais significativas na história da conservação da área.
Hoje, a Serra é reconhecida internacionalmente, não apenas como uma Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, mas também como um “hotspot” de biodiversidade, fundamental para a preservação do meio ambiente no estado de São Paulo.
A Serra do Japi desempenha um papel crucial na qualidade ambiental de Jundiaí. Historicamente, ela passou por diferentes ciclos econômicos, desde a extração de ouro, passando pelo cultivo de cana e café, até a exploração de madeira para a construção da ferrovia Santos-Jundiaí.
A partir da década de 1950, o crescimento acelerado do uso do solo na região gerou uma grande preocupação na comunidade local e no meio científico, levando à criação de ações públicas de preservação, com destaque para o Plano Diretor da cidade, que em 1964 já contemplava dispositivos voltados à proteção da Serra.
Flávio Gramolelli Junior, superintendente da Fundação Serra do Japi, destaca que o tombamento da Serra foi uma resposta ao rápido processo de urbanização da região, especialmente com a chegada de loteamentos a partir da década de 1960.
“O acelerado processo de uso e ocupação do solo foi o principal fator que levou ao tombamento da Serra”, afirma. Além disso, a Serra foi incluída nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Cabreúva e Jundiaí nos anos seguintes e, na década de 1990, a Prefeitura de Jundiaí criou a Reserva Biológica Municipal, um espaço voltado para a pesquisa científica e a educação ambiental.
Embora o tombamento tenha sido um marco de preservação, os desafios para manter a Serra íntegra continuam.
“Ainda enfrentamos ameaças significativas, como a caça, o uso inadequado do solo, balões e a invasão de áreas proibidas”, explica Gramolelli.
Para combater essas ameaças, a Fundação tem atuado de forma preventiva, com ações educativas voltadas à conscientização da população. Em parceria com órgãos como a Guarda Municipal, a Fundação busca incentivar o respeito à natureza antes de adotar medidas punitivas.
Um dos principais projetos da Fundação, o Estradas Parque, tem como objetivo integrar a preservação ambiental com o uso sustentável da área.
O projeto, que já é respaldado pela Lei Municipal nº 417 de 2004, está sendo desenvolvido para regulamentar as vias dentro da Serra, levando em conta seus atributos naturais e os usos permitidos. O Estradas Parque visa, assim, garantir que o turismo na região aconteça de forma responsável e que a integridade ambiental da Serra seja preservada.
A educação ambiental é outra frente importante de atuação. A Fundação oferece visitas guiadas para escolas e grupos comunitários, com programas que incluem trilhas e palestras educativas.
O Centro de Referência em Educação Ambiental (CREAM), localizado no bairro de Santa Clara, é outro espaço voltado para o ensino e a conscientização. “A ideia é oferecer uma vivência direta com a natureza, promovendo o aprendizado sobre a importância da preservação da Serra”, explica Gramolelli.
Além disso, a Fundação também se envolve em parcerias com universidades e instituições de pesquisa, permitindo que pesquisadores de todo o mundo realizem estudos científicos na Reserva Biológica Municipal.
A infraestrutura da Base Ecológica, que conta com dormitórios, cozinha e laboratório, oferece o suporte necessário para essas pesquisas. Esses estudos são fundamentais para entender melhor a biodiversidade da região e auxiliar em práticas mais eficientes de conservação.
No entanto, os desafios não se limitam a ameaças externas. A conscientização da comunidade local e dos visitantes é essencial para garantir a continuidade da preservação. Gramolelli reforça que a participação da população é fundamental, tanto na fiscalização quanto na promoção de práticas que respeitem a Serra.
“O conhecimento é uma ferramenta poderosa para a preservação. Quando a comunidade entende a importância da Serra, se torna um agente ativo na sua proteção”, afirma.
Neste sábado, 8 de março, para celebrar os 42 anos do tombamento da Serra do Japi, a Fundação Serra do Japi, em parceria com a SAB Santa Clara, promove a oficina “Café com Drone – Perspectivas comunitárias na prevenção e monitoramento de incêndios florestais”, um evento que visa envolver a comunidade no uso de tecnologias para a proteção da Serra.
O evento, que acontece na Avenida Atílio Gobbo, 4600, bairro Santa Clara, inclui uma demonstração e instrução de voos com drones, além de uma roda de conversa sobre a importância do Tombamento e do monitoramento de incêndios florestais.
Apesar dos avanços na preservação da Serra, Gramolelli salienta que a luta pela manutenção de sua integridade é constante. “Ainda há muito a ser feito, e a colaboração da comunidade é essencial. A Serra é um patrimônio de todos e precisamos garantir que ela se mantenha preservada para as futuras gerações.”