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Redução do volume de água nas nascentes e riachos da Serra do Japi preocupa

Publicada em 24/03/2025 às 11:32

PorFlavio Gut 22/03/2025

Neste 22 de março, Dia Mundial da Água, um alerta se destaca na Serra do Japi, uma das últimas grandes áreas contínuas de Mata Atlântica no interior de São Paulo: a redução do volume de água em suas nascentes e riachos.

Conhecida como “Castelo de Águas”, a reserva florestal é fundamental para o equilíbrio ambiental da região, mas relatos indicam que seus mananciais estão diminuindo ano após ano, levantando preocupações entre moradores, técnicos e autoridades.

Embora oficialmente não haja dados científicos conclusivos sobre a redução do volume de água nas nascentes, testemunhos de técnicos, pesquisadores e moradores apontam para um cenário preocupante.

A DAE (empresa de Água e Esgoto de Jundiaí) afirma que não há registros de redução na vazão de água proveniente da Serra do Japi e que o impacto no abastecimento da cidade, caso isso seja confirmado,  seria pequeno, uma vez que apenas 2% da água consumida em Jundiaí tem origem nas nascentes da serra.

Apesar disso, a qualidade da água proveniente da região é considerada excelente, o que reforça sua importância para o sistema de abastecimento.

A Fundação Serra do Japi também confirma que não há monitoramento do volume de água das nascentes na serra e que não existem estudos recentes sobre o tema.

No entanto, segundo a Fundação, após a grave estiagem de 2021, foi observada uma redução na vazão das nascentes, conforme relatos de moradores, frequentadores e técnicos da Prefeitura de Jundiaí e da própria Fundação.

O historiador Felipe Pinheiro, que foi candidato a vice-prefeito pela Rede Sustentabilidade na eleição de outubro de 2024, é um defensor da preservação ambiental da Serra do Japi e tem usado suas redes sociais para alertar sobre as mudanças no ecossistema da serra e a falta de medidas efetivas para reverter esse cenário.

“A maioria dessas nascentes que a gente encontrava há cinco, dez anos atrás, estão secando em grande escala. E na nossa Serra, que era conhecida como o Castelo das Águas, essa captação de água está se perdendo”, afirmou.

Pinheiro critica a exploração econômica da serra sem a devida preocupação ambiental.

“A Serra do Japi não pode ser um patrimônio para ser lembrado apenas pelos especuladores imobiliários, para lucrarem sobre as belezas da nossa biodiversidade e da nossa natureza. É preciso lembrar que a Serra do Japi garante o futuro da vida, inclusive dessas pessoas. Não adianta trazer muitas pessoas para morar em Jundiaí e falar da qualidade de vida, vender a Serra do Japi num cartão postal e no futuro nós não teremos água, que é o básico para a sobrevivência da nossa cidade”, destacou.

Flávio Gramolelli Jr., superintendente da Fundação Serra do Japi, confirmou as preocupações ao ser questionado sobre o tema.

“Após a grave estiagem de 2021, notou-se a redução da vazão das nascentes na Serra do Japi. A constatação foi feita especialmente por moradores e frequentadores, bem como por técnicos da Prefeitura e da Fundação Serra do Japi”, disse.

Segundo Gramolelli, um morador da região, que possui uma estação meteorológica em sua propriedade, relatou uma tendência preocupante: “As massas de umidade vindas da capital em direção à Serra do Japi têm se reduzido tanto em frequência quanto em quantidade de água a cada ano.”

Além disso, proprietários de sítios na região de Santa Clara tiveram que aumentar a profundidade de seus poços devido a um eventual rebaixamento do lençol freático.

O professor João Vasconcelos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pesquisa a Serra do Japi desde 1986, compartilha das preocupações.

“Quando conheci a Serra, em 1986, havia cascatas, riachos e cachoeiras. Isso vem sendo reduzido nos últimos anos”, afirmou. Ele lembrou que a fauna local também foi impactada, citando os besouros que dependem de raízes de plantas e foram afetados por mudanças climáticas.

Vasconcelos ressaltou ainda que a base ecológica da Serra do Japi, que antes captava água suficiente de uma nascente para suas atividades, hoje não consegue mais manter o abastecimento. “Na base ecológica tinha um reservatório de 100.000 litros que hoje está abandonado porque não existe mais fluxo e a nascente secou”, explicou.

Falta de Dados Oficiais

Apesar dos relatos, não há estudos científicos ou técnicos atualizados sobre a situação das nascentes. O gestor ambiental Fábio Pereira, coordenador da câmara técnica de recursos hídricos do COMDEMA (Conselho Municipal de Meio Ambiente), criticou a ausência de estudos técnicos relacionados às vazões e ao monitoramento periódico dos corpos hídricos da Serra do Japi.

“O que a gente sabe? Nesse momento nós não temos dados científicos nem técnicos. Nós só temos os testemunhos sociais, que são as informações das pessoas que têm, que moram no território, que trabalham no território”, disse.

A Fundação Serra do Japi também reforça que não há monitoramento do volume de água das nascentes e que não existem estudos recentes sobre o tema.

Diante das preocupações, algumas iniciativas têm sido desenvolvidas para monitorar e proteger os recursos hídricos da Serra do Japi. Um exemplo é o Projeto Olhos da Serra, uma parceria entre a Prefeitura de Jundiaí, a DAE e outras instituições.

Em 2023, o projeto concluiu o mapeamento das nascentes utilizando o método de Índice de Transformação Antrópica, que avalia o nível de preservação das nascentes e dos corpos hídricos. A iniciativa também contou com monitoramento por satélite durante dois anos.

Desde o início do projeto, já foram identificadas 833 nascentes e 111 cursos d’água na Serra do Japi, permitindo a recarga de mais de 5,5 milhões de m³ de água por ano.

Atualmente, o projeto entra em sua terceira fase, com novidades tecnológicas, como a inclusão de inteligência artificial para monitorar focos de incêndio e a instalação de uma câmera de alta resolução em uma torre de rádio na serra.

Impactos no Combate a Incêndios

A diminuição do volume de água nas nascentes também preocupa no combate a incêndios florestais, que têm se tornado mais frequentes na região. “Nós não temos uma estrutura de captação de água até para o combate aos incêndios, que já são uma realidade e infelizmente tendem a se agravar”, afirmou Flávio Gramolelli Jr.

A prefeitura de Jundiaí tem adotado iniciativas para monitorar a serra e combater ameaças ambientais. Recentemente, a Fundação Serra do Japi organizou a oficina “Café com Drone”, reunindo mais de 60 participantes para ampliar as ações do grupo Japi Monitora Incêndios. O evento incluiu demonstrações de voo de drones e discussões sobre estratégias de monitoramento ambiental.

Conclusão

A Serra do Japi, reconhecida por sua biodiversidade e papel na conservação dos recursos hídricos, enfrenta desafios significativos.

Embora não haja dados científicos conclusivos, os relatos de moradores, técnicos e pesquisadores apontam para uma tendência preocupante de redução no volume de água das nascentes e riachos.

Flávio Gramolelli Jr., da Fundação Serra do Japi, destacou a necessidade de estruturas para o combate a incêndios, que têm se tornado mais frequentes na região, e reforçou a importância da fiscalização e da cooperação entre o poder público e os moradores para proteger a serra.


Link original: https://serradojapi.jundiai.sp.gov.br/2025/03/reducao-do-volume-de-agua-nas-nascentes-e-riachos-da-serra-do-japi-preocupa/