Conhecer para preservar. Na trilha do Conserveiro com o superintendente da Fundação Serra do Japi
PorFlavio Gut01/07/2025
Conhecer para preservar. Esse é o princípio que orienta as ações da Fundação Serra do Japi, segundo o superintendente Flávio Gramolelli Jr., com quem conversei durante visita à reserva biológica da serra, pela Trilha do Conserveiro.
“É o lema ambientalista”, afirmou, destacando que o contato direto com a floresta é essencial para despertar o compromisso com sua proteção.
A Serra do Japi, considerada uma das últimas grandes áreas contínuas de Mata Atlântica do interior paulista, é reconhecida pela Unesco como Reserva da Biosfera e classificada como hotspot de biodiversidade pela organização Conservation International.
Para Gramolelli, o reconhecimento internacional reforça a importância da conservação local: “Temos aqui uma área muito importante para toda essa vida planetária”, disse.
Durante a visita, o superintendente explicou que o sistema de visitação controlada é uma das estratégias adotadas para promover a conscientização ambiental. A Fundação mantém um calendário de trilhas com agendamento online e monitores capacitados, além de receber visitas institucionais e escolares.
Um dos pontos que simboliza essa proposta é a Casa do Conserveiro, localizada na trilha visitada durante a entrevista. O local está sendo restaurado para voltar a funcionar como centro de educação ambiental. Abandonado durante a pandemia, o espaço está agora em fase de recuperação com apoio de monitores e da Prefeitura de Jundiaí. A ideia é que volte a oferecer exposições e atividades voltadas à preservação das nascentes da região.
Assista no nosso canal do Youtube a entrevista completa
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A serra se estende por 35 mil hectares entre os municípios de Jundiaí, Cabreúva, Cajamar e Pirapora do Bom Jesus, e apresenta variações marcantes de vegetação. Em altitudes mais elevadas, sob solo de quartzito ácido e pobre em nutrientes, a vegetação se adapta a condições extremas de umidade, solo e temperatura.
Além de abrigar essa diversidade, a Serra do Japi é fonte de abastecimento hídrico para parte da população de Jundiaí — um pequeno, mas importante percentual. Nascentes como as do Córrego do Chá, que integra a bacia do Moisés, fornecem água de alta qualidade. Após a seca de 2014-2015, no entanto, observou-se uma redução sensível no volume de algumas cachoeiras e nascentes, o que reforça a urgência da preservação.
A proteção da serra também conta com o apoio de tecnologia e da comunidade local. O sistema “Olhos da Serra” utiliza câmeras de vigilância conectadas à Guarda Municipal, capazes de detectar focos de fumaça. Moradores da região atuam de forma voluntária em grupos de monitoramento com drones e aplicativos de mensagem.
A convivência entre áreas públicas e propriedades privadas na serra é considerada positiva. Muitas famílias desenvolvem atividades sustentáveis, como passeios a cavalo, hospedagem e gastronomia rural. Gramolelli destaca uma frase de Flávio Buzanelli Jr.: “Temos que aprender a ganhar dinheiro com a Serra do Japi e não contra a Serra do Japi”.
Pesquisa científica e acesso controlado
A serra também funciona como laboratório natural. Nos últimos anos, foram descobertas espécies endêmicas de rã e vespa, exclusivas da região. Diversos grupos de pesquisa de universidades como Unicamp, USP e UFSCar realizam estudos constantes sobre fauna, flora, solos e qualidade da água.
Para o superintendente, o acesso à serra deve ser controlado, mas não proibitivo. Ele defende que a população tenha a oportunidade de viver a experiência da floresta para se engajar em sua proteção. Gramolelli lembrou o caso de uma moradora de 80 anos que se emocionou ao entrar pela primeira vez na serra, que via da janela todos os dias.
Novas trilhas e oportunidades
Projetos como a regulamentação das estradas-parque e a recuperação da Cachoeira do Morangaba integram a estratégia da Fundação e da Prefeitura de Jundiaí para ampliar a visitação em áreas adequadas do entorno da reserva biológica. Segundo Gramolleli, o turismo de base comunitária pode movimentar a economia e fortalecer a cultura da preservação.
“Nós somos parte dessa teia, e a Serra do Japi é um elo fundamental que cabe a nós proteger”, disse.